sábado, 2 de janeiro de 2010

Do espírito de sacrifício à alegria da revolução

O sacrificio tem conotação religiosa, oferecer algo ou alguém a uma deus ou uma deusa, algo de valor para quem oferece: 10% dos ganhos? Uma cabra? Uma escadaria de joelhos? Uma filha? A própria vida?
Pelo que sei, pelo menos no islamismo e no candomblé, o sacrifício de animais (sacrificar humanos não é permitido, que fique claro), deve ser feito sem dor ao animal oferecido.
O tema da dor recebe outro tratamento em outras religiões: os autoferimentos provocados por chicotes, por pagamento de promessas com marchas e joelhos no chão, o jejum, etc. A dor seria o meio de se aproximar de deus, de se purificar, de ser perdoado.
Todavia, quando falamos em espírito de sacrifício, não há referência com religiões, mas com as lutas dos povos por uma vida melhor.
O que é o Espírito de Sacrifício? É nos dedicarmos às tarefas mais árduas e pesadas no movimento revolucionário; é sobrevivermos às mais duras condições mantendo o ânimo para a luta.
Chê disse que "nosso sacrifício é consciente: ele é a cota de pagamento da liberdade que construímos". Estou de acordo com Che. Ele próprio sacrificou literalmente sua vida acreditando na revolução. Há vários aspectos que podem ser debatidos, mas, não iremos entrar nisso agora.
Creio que há uma contradição intrínseca nisso: sacrifício consciente.
Sacrifício é sacrifício, é dor, é pena. Se for consciente, é porque é feito por desejo, não por necessidade nem por imposição.
Se o sacrifício é consciente, é feito por desejo, ele deixa de ser sacrifício, e passa a ser mais uma tarefa realizada com alegria pelos resultados que dará.
Nestor, amigo tupamaro uruguayo, me disse várias vezes que a revolução só poderá ser feita com alegria. Com lágrimas não se constrói uma sociedade feliz, um movimento feliz. E, não empenhamos nossa vida pela tristeza, mas pela alegria.
Por que 'sacrifício', então? Talvez, porque outro ponto de vista veja nossas opções como sacrificiais.
Mas, que este sacrifício não seja andar descalço tendo sapatos, passar fome tendo comida, andar a pé tendo cavalo. Quando abrimos mão deliberadamente do acúmulo técnico da humanidade, para mostrar que temos espírito de sacrifício, estamos insultando aquelas e aqueles que de fato não têm calçados, comida e cavalo.
O sacrifício só é alegria empenhada na revolução socialista quando têm fundamento concreto. Uma pessoa a mais passando fome por romantismo, não nos coloca mais perto da revolução. Uma pessoa a mais que esteja consciente, sim.
Que neste novo ano, o espírito de sacrifício seja substituído pela alegria revolucionária, a mola propulsora do novo tempo.
Se a parteira do capitalismo foi a violência, que o socialismo seja feito e parido pela alegria. A felicidade e a alegria não existirão por decreto, elas precisam estar em nós, para que as coloquemos em cada tijolo, em cada árvore e em cada flor do nosso mundo.

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