domingo, 20 de dezembro de 2009

Chamartin

Chamartin era das mais bonitas.
Ela descia a escada lentamente, respirando fundo, e olhando a Matrix azul no paredão em frente.
Volta, escada seguinte, e a inundação vermelha de tetos se misturava com o rugidos dos trens chegando e saindo.
Essa era uma boa hora, a de voltar, sem pressa, seguindo o caminho conhecido, seduzida pela alternância azul-vermelho, pelos pontos correndo na Matrix, pela amplitude da estação.
Voltou-se e viu que ainda era seguida.
Ainda na estação da Renfe, em Três Cantos, percebera o moço, aparentando 40 anos, jaqueta marrom, toca preta, mãos nos bolsos, sem mais nada, e que não a perdia de vista. Desceu em Cantoblanco para confirmar as suspeitas. Tentou despistar subindo correndo as escadas, entre os muitos estudantes, mas, ele percebeu e também trocou de plataforma para continuar rumo a Madrid.
Em Charmatin, ela mergulhou na beleza do lugar, até o perceber tomando a mesma escada. Parou no painel de informações, e fez de conta que buscava o melhor caminho para Aluche, enquanto olhava o sujeito de jaqueta marrom que fingia amarrar o cadarço.
Desistiu da rota azul clara de sempre, e se dirigiu para a linha azul marinho. Enquanto esperava os três minutos até o próximo trem, olhava a Matrix, e corria os olhos buscando mais perseguidores.
Não os localizou.
Caminhando como quem está cansada, aproximou-se do homem. Tinha a sua altura, ombros fortes, com a toca escondia os olhos. Poderia vencê-lo.
As mãos nos bolsos talvez escondessem algo.
Dois minutos.
Gente se aglomerando na plataforma. Ela pega “O Jardineiro Fiel” e finge ler.
Um minuto. Fecha o livro. Ele está bem atrás dela.
“o trem vai efetuar entrada nesta estação”. Um passo ao lado, um passo atrás, lado a lado.
As luzes da serpente azul e branca apontam, toda a multidão dá um passo a frente, o trem vem acelerado.
Um pé atrás do corpo, o livro cai, ela se curva meio para o lado. Em uma fração de segundos, gritos, vários ligam para a emergência, o maquinista tenta abrir caminho.
Ela se volta para a Matrix uma outra vez, mais forte, serena, caminha para a linha azul clara, deixando Chamartin.

2 comentários:

vandervart disse...

yo lo he dicho...escribes muy bien!!!

Anônimo disse...

Esse teu blog tá ficando tri bacana!!

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