domingo, 6 de junho de 2010

30. De como transcorre o último encontro no porão

"Camaradas, vamos nos concentrar e ser objetivos, que precisamos ser rápidos"
Os que haviam ficado abraçavam os que voltavam ao porão. A mulher segurava a mão de Clara, que tinha os olhos fundos de muitas horas de choro.

"Esperamos Wolf pra a qualquer momento... esperamos que chegue..."

Pela dúvida, começam a discussão com os presentes.
"Encontraram os corpos de Mario e Beatriz, a filhinha deles está desaparecida"
"Em toda parte o deslocamento está cada vez mais difícil... então a Internacional sugere que você", Alvaro aponta a mulher, "tente seguir com tantos quantos for possível para Cuba, até agora tem sido um ponto de honra pra defesa. O que sabemos é que está arrasada, e o exército estadunidense está indo no combate corpo-a-corpo, pela proximidade, não irão detonar armas nucleares alí..."
"Antes, temos que organizar a resistência aqui", contesta a mulher, "não é uma guerra exatamente entre países, eles querem acabar com as organizações de classe. Mas, quero seguir para Cuba assim que seja possível"
Ela quer perguntar se há noticias de Bu, mas, se cala.

A que está na guarda anuncia a chegada de Wolf, e se reinicia a troca de abraços. Ela fica por último, e os dois amigos se abraçam longamente. "Estava preocupada", ela sussurra, "Eu também..."
Wolf faz os informes: John e Guilhermo, Lenoir, a situação na delegacia, e junta os materiais que traz aos que outros já haviam trazido ao porão.
"Que fazemos?"
"Creio que quase todos e todas estamos no máximo risco agora. Talvez Wolf ainda possa se mover..."
"E Márcia"
"Sairmos das grandes cidades, são mais perigosas; devemos tentar organizar a resistencia a partir do campo e das pequenas cidades"
"Nos dividimos e reagrupamos, formamos brigadas nas regiões. Para sair do país não há previsão, é preciso sorte..."
"Eu vou pro norte", diz a mulher. Conhecia a região, e tinha idéia de o que fazer. De aí, tentaria seguir para Cuba, quando encontrasse Lenoir.

Wolf seria o laço exterior, e contataria Marcia. Todos os demais já se sabiam clandestinos. Ela não concorda,
"Sabem que estamos condenando eles...", Wolf lhe dá um sorriso, tentando passar confiança. Mas, tem medo.

Alguns se acomodam para dormir. Ela e outros se põe a um canto com o mapa da cidade, e o desenho que Wolf fez da delegacia. Precisam soltar os companheiros, sabem que não haverá sobreviventes entre os presos.

No primeiro momento da madrugada, chega Cecilia. Parece uma adolescente, mas, já passa dos 30 anos. Ofegante, senta-se, com os olhos muito abertos,
"Estava num bar, perto do Centro de Inteligencia... eles têm uma lista de endereços... ouvi três deles comentando na calçada... eles têm uma lista, que pegaram nas anotações de um dos nossos..."
"Mas, quem seria burro pra anotar endereços? E deixar que eles peguem?"

Ela e Wolf trocam um olhar.

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