segunda-feira, 7 de junho de 2010

31. De como ainda se pode rir

"Quem seria tolo de dexá endereços por aí?"
"Ninguém esperava que isso tudo explodisse agora, também...", ameniza um.
"Deve ter sido Lenoir...", divaga Clara, "ele sempre foi desligado, relapso...", e ganhando confiança, "aliás, por que a Internacional queria que ele seguisse logo contigo?", e olha para a Mulher.
Uns e outros se olham, estranhando o tom de Clara.
"Porque ele é tradutor?", arrisca alguém.
"Ele é um vendido, isso que é. Por que tá onde tá até hoje? Ele gosta da boa vida, e seria muito capaz de nos vendê pra conservá o que acha que tem... sim, porque aposto como a cabeça dele rola agora, ninguém gosta de traidor", Clara aperta os lábios, e vai pra outra salinha.

A mulher olha o teto, lembrando de Lenoir. Conhecia os defeitos e fraquezas dele, sabia que ele tinha uma ponta de covardia na alma, mas, não era traidor do movimento. E ela tinha asco à covardia... mas...
Ela quebra o silêncio, depois de trocar um olhar entre divertido e magoado com Wolf,
"Gente, a lista que a polícia tem é falsa"
"Como??"
Wolf sorri, ela também, e Wolf continua o relato,
"Nós inventamos essas anotações... um domingo, meio sem o que fazer, resolvemos brincar de inventar pistas falsas pra polícia. Nem imaginávamos que acabaríamos usando"

Um alívio percorre todos e todas. O riso nervoso a princípio, vai se soltando,
"E onde as pistas vão levar eles?"
"Á biblioteca, ao museo e ao cemitério..."
"E como vocês entregaram pra eles?"
"Eu joguei no lixo, quando saí de casa... imaginei que algum agente ia buscá"

As gargalhadas ressoam, misturadas com as dores pelos camaradas perdidos, pelos aprisionados, pela insegurança, e pelo tamanho do desafio que os esperava.

A madrugada avança, e feitos os turnos da guarda, cada qual se acomoda como pode. Ela se estica na manta. Algum tempo depois, Wolf se deita ao seu lado,
"Vou contigo pro norte"
"Não"
"Preciso estar contigo... se for pra morrer, que seja ao teu lado"
"Precisamos de você aqui; você precisa ajudá tirá todo mundo da cadeia, sabe que vão matá eles"
Ela o aconchega no peito, ele a abraça.

Enquanto ela dorme, Wolf permanece insone. Usa o tempo para sentir o cheiro dela, brinca com o cabelo, acaricia o rosto.
E Pedro começa a sentir uma inquietação, enquanto segue montando guarda em casa de Zita.

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