segunda-feira, 10 de maio de 2010

10. De como usar as anotações

Como uma criança diante do doce favorito, ele abre a sacola plástica, tocando com cuidado cada papel e separando por tamanho e por tipo.
Dois cadernos pequenos, um caderno universitário, várias folhas sulfite. Anotações a lápiz. Algumas folhas impressas. Três textos grampeados.
Tudo separado na escrivaninha, ele demora uns minutos, saboreando, antes de decidir por onde começar.
"isso vai me render uma promoção..."

No tempo que estava seguindo ela, nunca tinha conseguido tamanho prêmio. As conversas gravadas na casa e no trabalho, os dias que estivera comprando livros, o acompanhando a muitas partes, o controle das mensagens eletrônicas, nada parecia ser tão bom como ela ter entregue aquele material assim.
"Ela deve ter se assustado, e cometeu um erro..."

A noite já havia caído, e a adrenalina o mantinha acordado, junto a altas doses de café. Era a segunda noite sem dormir.
Primeira prioridade: recuperar o controle sobre os passos da mulher.

Começa pelos cadernos pequenos. Anotações de alguma aula, geopolítica, cultura, nada de interessante. Abandona o primeiro.
O segundo parece mais promissor. Nos cantos das folhas, conversas dela com alguém, "Que letras feias... parecem competir pra ver quem escreve pior..." trocas de juras de amor, "quanta baboseira... liberdade... leveza... idiotas"
Abandona o caderno. Pega as folhas com anotações a lápiz. A letra muidinha e mais compreensível chama a atenção. "Bingo!"
Anotações de uma reunião. 17 de Abril, ações na rua, ... Outras reuniões mais. Perdidos em vários lugares, telefones, alguns endereços, duas folhas com mapas toscos rabiscados.

Ele separa as informações, faz uma lista de lugares, nomes e telefones que apareceram. "Agora te pego, e te pego mesmo! Você, aquele pequeno que te encontra, e todo o bando..."

Animado, termina de revisar os materiais, volta várias vezes aos dois pequenos cadernos, buscando códigos, mas, não encontra outra coisa que não o explícito. "Que se pode esperar de alguém que escreve esse tipo de coisa, e ainda joga tudo assim, no lixo? Tolinha..."

Em algum lugar de sua mente, algo lhe diz que não é bem assim, que aluma coisa não se encaixa. Ele não dá ouvidos, o lógico é que a moça não teve fortaleza emocional para cuidar dos próprios materiais, e ele tinha o dever de usar isso na defesa de seu país.
"Da OTAN, idiota, da Monsanto, da Syngenta, da Stora Enzo, da...", diz a si mesmo.

O telefone toca.
"Senhor, achamos o cavalo..."
"Que ninguém se aproxime dele!!"

Ele pega a arma, com um sorriso feroz, sai ao encontro de Tornado.

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