quarta-feira, 19 de maio de 2010

14. Um final de noite

Encolhida no esconderijo, ela pensa se deve se expor. Conhece Wolf, sabe que ele teria motivos pra dizer-lhe que não saísse de onde estava. E, motivos políticos, ademais do amor que tinha por ela.
Observa os soldados o levantando do solo com violência, não sabe se ele está ferido, se sente culpada.  Uma concentração de soldados, correria, e o vulto de Wolf desaparece de suas vistas.

Mantendo-se na sombra, salta a cerca do parque, recolhe Tornado e se dirige à direção oposta, ganhando a madrugada. O choro volta, pensando no ato de Wolf.

Por perto, uma figura sorri satisfeita. O agente intuiu que o homem correndo na rua podia ser uma cortina de fumaça. Mas, isso não encaixava no conjunto. "melhor pra mim". Ele conhecia o professor que os soldados haviam detido, já o vira com ela, sabia em que universidade e departamento dava aulas, suas linhas de pesquisa, "inofensivo". Sabia também do amor que ele tinha; as conversas entre a mulher e Wolf estavam gravadas.

Há muito tempo, ela havia se interessado por Wolf, e se declarado a ele. Mas, ele optou por casar-se com uma antiga colega sua, seguindo a carreira universitária. Ela, de coração partido, achou que nunca mais iria encontrar outro homem que amasse, como amava Wolf; foram meses chorando escondido, mantendo a altivez.
Ele era mais novo que ela alguns anos, mas, o contato da experiencia dela com sua inteligencia havia ajudado a que se tornasse uma das referências em termos políticos. Ele a admirava, nada mais. Se sentia grato por tê-la como amiga.
"como o tempo muda as coisas...", pensa Pedro, enquanto a segue, ela que vai devagar levando o cavalo pelas sombras.

Seguidor e seguida se afastam do centro da cidade, até um antigo haras, transformado em espaço de lazer da média burguesia urbana. Era um espaço bastante ocupado, com muitas casas rodeando o oásis rural da metrópole; ultimamente, andava em decadência, com poucos e feios cavalos, e quase nenhum humano. Alí ela deixa Tornado.

Os pensamentos de Pedro se concentram em tentar entender o que se passa. O professor se sacrifica, para que ela possa resgatar um cavalo? O que o professor fazia lá? Havia estado com ela, durante o tempo que tinha perdido seu rastro? Não lhe havia ocorrido que ela o procurasse... ela não iria à casa de Wolf. Onde se encontraram, então? Ou não era nada disso, e apenas uma coincidencia? Mas, por que o professor corria?

Já é a hora mais escura da noite, o anúncio de que o dia não tarda. Os dois retomam o caminho do centro, ela segue para a casa de uma amiga, com a cabeça baixa, atenta e escolhendo bem as ruas.
Depois de uma hora de caminhada, já a escuridão começa a ser quebrada. Pedro sente os pés doendo, a cabeça também, precisa de café. Ela toca o interfone e sobe. Ele chama o parceiro para retomar a campana

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