sábado, 22 de maio de 2010

16. De tudo que mais quero na vida

"Tava cansado, viajando o dia todo. Ha muito tempo que não viajava de caminhão, a delícia do vento no rosto somada à agonia de viajá tão incomodamente.

A carroceria tava cheia, não dava pra deitá, mal e mal sentado, e as câimbra me fizeram andá um poco, no que era possível.

Criançada com fome, e meus biscoito se foram. Que merda a guerra, sempre é merda. Com a cidade atingida tão cedo, uma fuga massiva de gente, principalmente mulher e criança.

Meu amor tinha razão. Ela tava ligada nas mobilização militar, mais de arma que de gente; bem verdade que as guerra de hoje, por inquanto, já podem prescindí de grandes exército. Os cara apertam um botão e bum! lá se vai uma cidade pelos ar. Pela TV, gente morta, corpo queimado, criança com fome, nada é chocante demais pra num sê feito, lá longe, só na TV.

Também, a dor e a miséria tão tão no dia-a-dia de todo mundo... chega a sê gozoso ver o sofrimento alheio. Finalmente, esse sofrimento chegô aqui...

“luta de classe, luta de classe”, ai que eu já me aborrecia com a repetição dela. E tava certa o tempo todo, como nossa organização.

Eu que sô um merda.

Por que eu disse que ela era uma egoísta? A cidade onde morei esses ano é uma boa cidade. Tá certo que me matei trabaiando pra pagá conta de aluguel, de transporte, de comida, contas que não me acrescentarum nada. Pelo contrário, foram anos de vida cada vez mais perdendo o sentido de ter vindo, me afastando da organização, que me ajudava a ter uma razão na vida.

Ela me levô de volta... me curô a dor de militante solitário, me recolocô na ativa. Me fez home. Colocô de novo a revolução na minha alma.

Eu que num vi isso. Espero que ela esteja bem...

Mas, a vida era boa... por que eu ia dexá uma relação que me garantia certo status nos círculo que eu gostava, pra sofrê com ela o malfado de classe trabalhadora?

Eu sô um merda mesmo... ó onde eu tava: a minha gente não tava nos lugar onde eu tava... merdamerdamerda. É preciso uma guerra desse tamanho pra eu dexá que essa idéia ficasse concreta.

Se a vida era boa, perto do que podia sê, por que eu ia trocá? O certo pelo duvidoso? Bem que o Marcuse dizia... a gente se amolda à maquina capitalista, tentando desfruta dos beneficio; quem se rebela, paga o preço: pobreza, insegurança...

Até onte eu tava lá, agarrado firme nas migaia, feliz “compartiando” do centro... idiota. Que vida besta eu tava levando.

Acho que era por isso que ela ficava tão distante de eu, as vezes. Tão bom vê ela dormindo... tão bom se ela tivesse aqui...

Meu céu é o corpo dela, macio, firme, forte. E nunca disse isso pra ela, burro, burro, burro.

Opa, barrera... melhor passá longe... uma pena dexá essa carona de tão boa hora...

Amada, quero tá contigo logo. To indo, sobrevive, amada minha!

Ai, meu tornozelo!!! Merda, merda, merda..."

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