domingo, 9 de maio de 2010

9. Do fim do primeiro dia, a primeira noite

"Eu cheguei aqui primeiro, conseguiram me ligar do Brasil no primeiro sinal, e pude avisar alguns"
"Parece que vários estão desaparecidos, devem estar presos"
Estão em nove no porão. Um tempo atrás, quando a repressão foi aumentando, escolheram aquele lugar pra emergencias. Ninguém imaginava que seria tão cedo. Entre poucos amigos, membros de diversas organizações, definiram uma senha, e meio na brincadeira, estocaram água e comida.

Do grupo de amigos mais próximos, faltavam John, Guillermo e Mario.

"Estados Unidos e quase toda Europa começaram. Atacaram China, Brasil e India. Tiveram o fogo respondido instantaneamente..."

Ouvem o radinho, olhando o mapa mundi na parede. Hu Jintao, Lula, Chavez, Morales e outros estavam se coordenando. Diziam que Fidel estava vivo, mas, Cuba estava arrasada; o povo cubano estava contendo uma invasão casa a casa, e tinham cobertura das tropas brasileiras e venezuelanas. Haiti era o ponto de apoio, totalmente dominado por Brasil.
Várias cidades dos EUA, de Inglaterra e França tinham sido atingidas.
"E o radio amador?"
"Alvaro está montando"

"Tarefas?"
"Equipes, vamos nos dividir. Temos que montar a comunicação, segurança, finanças, documentos, armas, comida, água, busca dos desaparecidos, situação nos bairros, coordenação com a Internacional..."
"Coordenação?"
"Duas vezes por dia, aqui, enquanto for seguro"
"Alguém centraliza as informações..."
"Isso é perigoso..."
"Querem acabar com a gente..."
"Vamo comê eles por dentro"
Todos e todas de acordo, dividem as tarefas. Algumas ficam pendentes, pouca gente.

Ela estuda o mapa da cidade, faz anotações. Saudades do amado, a falta de noticias da família, os ataques a tantas cidades... bebe água, e se concentra.
"Conexão com Brasil!", avisa o operador do radio. Todos e todas ficam em silêncio. Ela sai da sala, Wolf a segue.
"Precisamos conversar..."
"Agora não"
Um companheiro assoma na porta, "vocês podem voltar? Passaram orientações"

"Você" o radioamador aponta pra ela "ir pra ... o mais rápido possível. Deve encontrar antes com outra pessoa, que você saberia que é, e seguirem juntos." Ela sabe com quem deve se encontrar... Lenoir, se ainda estiver vivo.
"Todos nós: organizar a resistencia em todos os lugares, manter os postos de comunicação, atacar pontos estratégicos em cada lugar..."

A noite chega e avança, ela lembra que precisa comer.
A saudade é forte, sente a falta física de Lenoir, quer ficar um momento só.
"Compas, preciso ir, ver o cavalo".
"É perigoso, você não vai", Wolf segura o braço dela.
"Já estou indo, até logo"
Ele a olha nos olhos, "Não é hora de ser criança... leve a arma então"
"A arma é mais necessária aqui"
Ela dá um sorriso, pega apenas a identificação e sai.
Ele fecha a cara, e sai uns minutos depois.

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