terça-feira, 25 de maio de 2010

19. Da base Zita

Toca o interfone, espera longos cinco minutos, e Zita responde.
"Urgência", nem precisava dizer, pois tocar um interfone àquela hora só podia ser emergência.

A dona da casa reconhece a voz, e mais além, esperava desde a manhã ouvir aquela palavra a qualquer momento. Era a senha para o que poderia vir depois, e estava preparada. A mulher sobre a escada de dois em dois degraus, enquanto Zita deixa a porta aberta e vai a janela, no escuro, espiar a movimentação na rua. Vê Pedro ao telefone, na sombra, um ponto iluminado pela tela do celular.

A recém chegada se lança nos braços da velha mulher, e as duas se estreitam, querendo transmitir mutuamente esperança e conforto.
"Filha...", "mama mía!", e se riem entre as lágrimas.

Preparam chá, biscoitos, a mulher toma banho, se veste com roupas de Zita e lava as próprias roupas. O dia vai rompendo, e ela quer saber as notícias.
"Seja forte... - começa Zita - vô começá pelo pior. Bombardearam, em Brasil, a uma mobilização dos campesinos e campesinas; estavam em marcha a três dia, e onte, um dos primero alvos foram eles e elas... morreram quase todos, cerca de quatro mil pessoas...
Acho que esperavam, antes que os países reagissem, acabá com as organização social, facilitando o trabalho dos grupos que tão agindo internamente pra derrocada dos 'país rebelde'."
"Sim, todo mundo sabia que nós era a base forte na construção de otra proposta... depois que conseguimo garanti o pré-sal pro povo, então...", suspira a mulher.
Zita continua, "sim, em todos os país que foram os primero alvo, atacaro também os movimento popular logo de cara. A Internacional tá firme com os governo aliado, e aqui e nos otro país da Aliança pra Paz e Progresso, sabia que se dero esse nome? 'paz e progresso', começando com uma guerra, como é típico... então, aqui e nos otro começaro com as prisão de ocêis... ocê tem que se cuidá, filha..."
"Tenho que dormi, Zita. Você pode ir preparando as coisa?"
"Sim, descansa, descansa. Vô vê tudo que posso dexá pronto."
"Você pode perguntá por Bu?"
Zita a olha sem surpresa. Ela amava Bu, nunca havia duvidado nem escondido.
"Até agora, não tive notícias dele... sinto muito"

A mulher se deita no quarto escurecido pelas cortinas. A ação do chá e do escalda-pés é relaxante. A dor pelos mortos e mortas passa como um filme, e vai calando no coração. Busca na memória alguma música boba que a ajudasse a olhar de longe... "toda vez que falta luz, o invisível salta aos olhos...", "música de almanaque Sadol", como diria Bu. "sobreviva, querido, sobreviva...", e fecha os olhos, sonhando.

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