quarta-feira, 12 de maio de 2010

12. Mientras tanto...

Mal a sirene começou a apitar, as explosões já se fizeram sentir. Era madrugada, ele senta na cama, sem entender se sonha ou é realidade.
Mais explosões ao longe, sente um leve tremor.

Poucos segundos e entende. "Mas, já?"
Sua amada estava certa, pega o telefone fixo para avisá-la, mas, a linha está muda.

Ha dias, conversando com a amada, estavam especulando sobre essa possibilidade. Ela tinha razão quando dizia que a corrida nuclear, com Brasil, China e India liderando um bloco, logo seria motivo de ações "não diplomáticas" por parte de EUA, e a reboque, União Europeia.

A mulher também acorda, assustada. "Que tá acontecendo?" "Não sei".

Não quer olhar para ela. Não suporta. Automaticamente, se veste, pega a mochila já meio pronta por tantas viagens, pega documentos, a máquina fotografica ("não esquece a máquina", o pedido de sempre), blocos, caderno, computador. Na cozinha, alguns biscoitos, a ultima lata de cerveja.
A mulher o segue, começando a chorar "O que você vai fazer?", não responde.
No pequeno escritório, pega o livro de comics que ela lhe havia presenteado, com uma figura dos dois na capa; uma sombra de sorriso aparece, "espirituosa..." pensa, com saudades. Que estaria ela fazendo? Precisa dar um jeito de ligar pra ela.
"Por que você vai levar esse livro? Por que a máquina de foto? Você nem gosta de fotografar... Onde você vai? Por que não espera amanhecer? Que tá acontecendo?"
Ele responderia todas essas perguntas, pois são lógicas; mas, nao tem mais espaço, não tem mais paciência, não tem mais nada. Só quer sair dalí o mais rápido possível.

"Você tá me deixando?"
Ele a olha, já sem mágoa, com total indiferença. "Não. Nós já nos deixamos a muito tempo, só estou, enfim, conseguindo fazer o que nós dois queremos que seja feito."
"Eu não quero que você vá" ela grita.
"Você quer; no fundo, você sabe que é infeliz comigo, como eu sou contigo."
"Você tem outra!!"
"Não. Só tenho uma mulher, e não é você."
"Eu te amo..."
"Você nem mesmo se ama..."
A mulher tenta abraçá-lo, ele se livra dela, e pra não vê-la prostrada no solo, vai ao banheiro. Tranca a porta, se olha no espelho. "Vai imbecil, sai logo..."

A mulher respira fundo, pensando como agir. Sabia que esse dia chegaria, e o estava evitando a muito tempo, sempre com sucesso. Não podia admitir que seu pai estava certo. Busca na memória o que, em outros momentos, havia tido efeito em fazê-lo ficar.
Quando o homem sai do banheiro, se aproxima o mais carinhosamente que pode, "Lenoir, fica..."

Ele a olha, entre surpreso e enojado, "não me chame assim, eu não sou Lenoir".

Resolutamente, pega um pão seco, a mochila, e sai mastigando, ouvindo os gritos atrás de si.

Na rua, a pena que sente da mulher que fica logo é suplantada pelos ruídos das baterias. Tropas se deslocam, a sirene de alerta, pessoas correndo. Dois segundos pra decidir como fazer o que deseja a muito tempo, "amada, esteja bem. Estou indo, me espere..."

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